terça-feira

Capítulo 8

     Tom, cansado, colocou a última roupa na máquina e fechou a porta. Ele tinha estado trabalhando arduamente durante toda a noite na lavanderia. Kaaren estava mantendo-o ocupado lá embaixo, e Tom não estava reclamando nem um pouco.

     Se ele tivesse que estar na instituição, preferia se esconder no quarto da lavanderia, onde ninguém conseguiria encontrá-lo.

     Já se passaram alguns dias desde que Tom deixou o trabalho sem aviso prévio. Sua mãe chegou para buscá-lo e ele tinha ficado em silêncio a carona inteira para a casa. Quando chegaram, Tom foi direto para seu quarto e se trancou lá dentro, tremendo, amaldiçoando a si mesmo.

     Ele queria saber, realmente queria saber, se o tempo que ele tinha gastado em uma instituição mental era o suficiente para fazer uma pessoa sã ficar maluca.

     Tom terminou de descarregar a roupa e inclinou-se contra a máquina, massageando sua testa latejante. Ele desejava tanto um cigarro. Sua pele começou a coçar e ele ficou lambendo o céu da boca.

     Ele estava evitando novamente.

     Não apenas o quinto andar. Mas Bill, Tom estava evitando seus próprios sentimentos sobre Bill. Ele podia evitar o quinto andar facilmente; Kaaren tinha bastante trabalho para ele fazer ao redor do edifício, para mantê-lo ocupado por dias. Mas ele não conseguia tirar Bill da sua cabeça.

     Ele não podia tirar a imagem de Bill preso em uma cama, se esforçando para se libertar, de sua mente. Ele não podia escapar. E ele ouviu Bill, também. Ele ouviu os berros, as lamentações, os gritos, o desespero; Bill choramingando de dor.

     Ele ouviu a risada de Bill, viu seu sorriso. Provou seus lábios.

     Tom franziu a testa, inclinou-se para frente e expirou. Ele estava doente. Bill estava doente, e Tom estava doente por pensar tanto nele. Tudo isso era apenas... confuso.

     Ele escovou os dedos contra a caixa de cigarros no bolso e colocou um em seu lábio. Ele poderia ter tempo para um ou dois cigarros. Estava prestes a pegar o isqueiro quando a porta da cozinha se abriu e Georg entrou.

     Seus olhos se encontraram e Tom manteve sua expressão neutra.

     "Ei" disse Georg, vago.

     Tom apenas assentiu com a cabeça observando Georg, que foi até sua mochila e remexeu nela. Ele retirou uma garrafa de água de dentro dela e tomou um gole, limpando a boca com o antebraço.

     "Qual é o problema?" Georg perguntou.

     Tom deu de ombros. "Não te vi por aqui."

     "Bem, eu tenho o turno da manhã, não tenho?" Disse Georg, brevemente. "E você é da noite, agora."

     "Sim", Tom murmurou. "Eu acho".

     " Como você está?"

     "Cansado", Tom respondeu. " Apenas muito... esgotado."

     "Você deveria tentar dormir." Georg colocou sua mochila no chão, sorrindo. "Ou transar. Brigitte o nome dela, certo? "

     "Não fale sobre ela", disse Tom, bruscamente.

     Georg fez uma careta. "Tudo bem. Você ainda está chateado sobre o outro dia? "

     Tom suspirou. "Isso não é importante."

      "Hmm". Georg fechou sua mochila e enfiou a garrafa de água no bolso dela. "Sim, você está certo. Não é. Então, esqueça isso ".

     Tom sentia o sangue começar a ferver e ele cerrou os punhos ao seu lado. "Você está doente."

     "Não é verdade. Não sou eu o único que anda por aí com um doente mental. "

     "O quê?" Os olhos de Tom se arregalaram.

     "Oh, sim. Gustav me disse que você segue Bill como um idiota. Legal, Tom ", Georg disse, revirando os olhos. "Será que eles não lhe ensinaram nada?"

     "Cale a boca".

     Georg riu. "Tudo bem, que seja. Ei, como ele está sem a sua boneca? "

     Tom fechou os olhos e engoliu em seco. Sua cabeça começou a girar e os dedos formigavam com o desejo de socar Georg. Quando ele abriu os olhos novamente, Georg estava sorridente, de braços cruzados.

     "Tudo bem", Parou de cerrar os punhos.

     "Ouvi dizer que ele é um caso perdido. Oh, cara, eu não tenho um motivo para ir até lá ainda, mas quando eu tiver um...", Georg disse, sorrindo. "Merda. Oh. Bem, eu tenho que ir.

     Tom lentamente levantou seu punho. Estava prestes a dar um salto para frente e bater em Georg até ele ver luzes, mas se conteve. Ele não podia bater nele. Não podia fazer nada contra ele, porque Georg o tinha em suas mãos.

     Então, Tom apenas viu Georg sair. Seus ombros pesados e seu coração dolorido.


     Tom atravessou a porta de segurança para ir até o quinto andar, hesitante. Ele passou bastante tempo evitando; tinha que colocar a cabeça no lugar, seu esfregão e balde estavam esperando por ele. O andar estava silencioso, apenas ouvia-se os sons habituais: papéis mexendo, sapatos sendo arrastados, pacientes tossindo.

     Estava escuro, Tom tinha esquecido que antes o lugar era claro.

     Caminhou pelo corredor até encontrar seu esfregão, mas ele não andou para o lugar certo. Estava indo para um caminho familiar, para o quarto de Bill. Ele sabia que o garoto estaria dormindo, mas queria olhá-lo. Tinha que, finalmente, ver se Bill estava bem.

     Houve um ligeiro tumulto fora de seu quarto. Vários enfermeiros estavam reunidos na porta e alguns soluços vinham de dentro dela. As enfermeiras pareciam cansadas, frustradas. Tom franziu a testa e continuou a andar, chegando mais perto.

     "... Continua a recusar a medicação, há vários dias", uma das enfermeiras estava dizendo.

     "Eu sei. E forçá-lo a tomar não é mais uma opção. Ele assinou contra o levantamento, mas, caramba, eu não quero ter que desobedecer. Ele precisa de sua medicação ", outro respondeu, franzindo a testa.

     Tom encolheu-se, olhando para o chão, inclinado para trás por alguns minutos.

     "Ele não vai parar de chorar", disse a outra enfermeira, com olhos cansados. "Dias e dias acontecendo isso, eu gostaria que ele pelo menos dormisse."

     "Desde que a boneca sumiu ..."

     Tom suspirou e bateu a cabeça contra a parede. Ele podia ouvir as lamúrias de Bill, seu choro intermitente. Desejou que Bill tivesse a sua medicação, ou o que quer que seja.

     "Tom", Kaaren disse, baixinho, dando um passo atrás dele e colocando a mão em seu braço.

     "Oh," Tom murmurou, virando-se culposamente. "Eu estava prestes a começar a trabalhar."

     "Eu sei. Venha comigo ", Kaaren disse, gesticulando ao fundo do corredor. "Quero falar com você."

     Tom comprimiu seu lábio e seguiu pelo corredor, mantendo sua atenção nos gritos enfraquecidos de Bill. Kaaren entrou em seu pequeno escritório e Tom entrou logo depois. Ela apontou para uma das cadeiras na frente de sua mesa, e Tom, relutantemente, tomou o lugar.

     "Então," Tom disse, suavemente.

     Kaaren suspirou. "Eu estou preocupada."

     "Sobre o quê?"

     "Sobre o seu apego .... sua amizade. Seu relacionamento com Bill. Estou preocupada ", disse Kaaren novamente.

     As bochechas de Tom queimaram e ele deslizou para baixo em sua cadeira, olhando para o chão.

     "... Eu não quero desanimá-lo. Não, é que ...", disse ela, olhando aflita. "Eu ... não ... Bill é muito especial. Ele está muito doente, Tom. Você entende? "

     "Sim" Tom respondeu calmamente.

     "E você é ... Bem, você só está aqui por um curto período. Você vê o que acontece quando ele perde aquela boneca?" Kaaren fez um breve pausa. "Bill não pode criar ... uma ligação com alguém só temporariamente."

     "Eu sou seu amigo."

     "Você não pode ser", Kaaren disse sem rodeios. "Tom, me desculpe, mas ... Quando Bill atribui a alguma coisa, tem que ser ... permanente. Ele precisa disso de uma forma constante. Você é temporário. Trata-se de serviços à comunidade, Tom. Eu lhe falei, muito claramente, no início, para não interagir com os moradores. "

     "Ele veio até mim," Tom disse.

     "Eu sei o que ele fez. Ele viu algo em você, e apenas algo para ele próprio. Assim como fez com a boneca. Nós permitimos a boneca, porque pensei que seria em torno dele, mas como ele a perdeu, isso seria uma idéia muito, muito ruim ", disse Kaaren, cansada. "Você tem apenas cinco semanas até deixar o serviço."

      "Eu posso ficar", Tom encontrou-se a dizer.

     Kaaren sacudiu a cabeça. "Isso não funciona assim, e eu sei que seria muito ruim. Até para você. Mas eu não acho que seja uma boa idéia, você sabe como Bill está doente".

     "Ele não está doente," Tom respondeu logo.

     "Então, o quê?"

     "Às vezes ele está bem," Tom murmurou.

     "Eu sei. Não se deixe enganar... Tom, eu sempre pensei que você era um bom garoto, mas por favor, sabe quando recuar. Este é um desses momentos. Por favor, faça isso por mim. "

     Tom se mexeu na cadeira, irritado. "Posso ir esfregar o chão agora?"

     Kaaren assentiu. "Pense bem sobre isso, Tom".

     "Tudo bem", disse Tom, empurrando-se para fora da cadeira e caminhando para fora da pequena sala. Ele não parava de andar, até que chegou à porta de segurança para as escadas e, em seguida, ele correu pelas escadas até a lavanderia.

     Ele ficou no meio do quarto vago por alguns momentos, apenas olhando ao redor. O que ele estava procurando tinha que estar lá em baixo. Ele sentiu isso, sentiu que ele iria destruir o quarto até que ele a encontrasse. Ele chutou os armários abertos, e, em seguida, vasculhou as pilhas de roupa velha.

     Nada.

     Então, ofegante, Tom foi direto para onde Georg deixou a mochila e a pegou, puxando o zíper aberto. A poucas garrafas de água foram jogadas fora.

     Ali, debaixo de uma camisa enrolada de Georg, encontrou a boneca de Bill.

     "Sim", Tom sussurrou. Ele acariciou o cabelo emaranhado da boneca, quase abraçando-a. A boneca era um pouco de Bill e ele estava tão feliz de vê-la novamente. Ele pressionou o cabelo no rosto e respirou, achando que ele cheirava a Bill.

     Quando Tom voltou ao quinto andar, ele praticamente corria pelo corredor até o quarto de Bill, apertando tanto a boneca em suas mãos que seus dedos chegavam a doer. Ele se aproximou do grupo de enfermeiras e algumas delas viraram, dando a Tom um olhar de desaprovação..

     "Não", uma das enfermeiras disse, sacudindo a cabeça. "Esta área está proíbida".

     Tom gemeu ao ouvir Bill chorar dentro do quarto. "Por favor, deixe-me entrar."

     "Não", uma outra disse, com firmeza. "Quem é você? O horário de visitas já terminou. "

     "Eu tenho algo para..."

     A primeira enfermeira colocou a mão em seus ombros e tentou fazê-lo se afastar, mas Tom rapidamente se libertou e correu de volta para a porta do quarto de Bill. Ele conseguiu passar e, agora, estava enfrentando Kaaren.

     "Tom", disse ela, severamente, franzindo o cenho.

     "Deixe-me entrar", disse Tom, desesperadamente. "Eu tenho que ver Bill."

     "Não"

     "Sim", respondeu Tom, com raiva.” Eu sei o que estou fazendo. "

     Ela deu um suspiro alto. "Tom ..."

     Tom observou Kaaren se afastar e viu Bill na cama, deitado e inerte olhando fixamente para frente. Ele deu a Kaaren um último olhar e caminhou lentamente até a cama de Bill.

     "Bill", Tom disse, suavemente. "Bill, você pode me ouvir?"

     Bill olhava para frente.

     "Bill, eu trouxe alguém para te ver", Tom prosseguiu, segurando a boneca em suas costas. "Você quer ver alguém?"

     Bill sacudiu a cabeça ligeiramente, mas seus olhos estavam conectados com os de Tom e algo cintilou neles. Ele piscou e Tom sorriu, dando um passo mais perto até que ele estava completamente ao lado de Bill.

     "Eu acho que sim," Tom sussurrou. Ele segurou a boneca e o garoto olhou para ele, meio desligado por um momento

     Tom prendeu a respiração. Bill tinha se esquecido da boneca?

     Os olhos de Bill estavam meio fechados quando ele olhou para a boneca. Ele deixou sua própria cabeça encostar em seu ombro, erguendo seus dedos trêmulos.

     "Tomi", ele murmurou.

     Kaaren caminhou até estar ao lado de Tom e franziu o cenho para ele. "Você que a levou?"

     "Não", disse Tom, mantendo os olhos em Bill. Ele colocou a boneca em suas mãos e Bill puxou-a lentamente até seu peito, fechando os olhos e suspirando. Ele abaixou a cabeça, seus cabelos cobrindo sua face, e virou-se para Tom e Kaaren.

     "Então, onde estava?"

     "Lavanderia". Tom deu a ela um último olhar e dirigiu sua atenção novamente para Bill. Bill estava alisando as costas da boneca, ainda tremendo, os ombros bem desenhados e os joelhos dobrados. Ele parecia uma criança, agarrando desesperadamente a sua boneca.

     "Bill", Kaaren disse, suavemente.

     Bill não olhou para cima, não recuou, nem sequer parecia saber que Kaaren estava na sala. Ela deu um suspiro e cruzou os braços, encolhendo os ombros. Tom mordeu seu lábio quando Bill envolveu seus braços em volta de seu corpo e do corpo da boneca, quase desaparecendo em si mesmo. Suas costas estavam curvadas em um arco perfeito e sua testa estava quase encostada no colchão.

     Kaaren deu alguns passos para frente e tocou suavemente as costas de Bill. Ele nem ao menos reagiu.

     "Talvez você deva ir, Tom", Kaaren disse. "Eu acho.."

     "Não", veio a voz abafada de Bill.

     Tom olhou desamparadamente para a forma curvada de Bill. "Hum".

     "Bill", disse Kaaren novamente. "Você está me ouvindo?"

     Mais uma vez, Bill não respondeu. Encolheu-se mais rigoroso, nem seu rosto e nem a boneca estavam visíveis. Ele estava murmurando algo, murmurando rapidamente e em silêncio. Tom não conseguia decifrar o que ele estava dizendo, mas ele certamente sabia que Bill também não conseguia, e se ele tentasse entender, não ouviria nada do que Kaaren estava dizendo.

     "Bill", Tom tentou.

     Bill despertou, olhou para cima, seus olhos se conectaram com os de Tom. Kaaren estava tensa e Tom sorriu para ele. A face de Bill estava sem expressão novamente, mas pelo menos havia uma conexão entre eles. Ele estava segurando o cabelo da boneca ferozmente, como se temesse que lhe seria tirada de novo. Tom queria ter certeza de que isso nunca mais iria acontecer.

     "Bill", Kaaren disse, calmamente. "Eu preciso que você tome sua medicação".

     Bill baixou a cabeça novamente e Kaaren olhou para Tom, como se pedisse ajuda. Tom apenas encolheu um de seus ombros.

     "Talvez ... você pode perguntar para ele", disse Kaaren. "Ele não está respondendo a, hum, mais ninguém."

     Tom balançou a cabeça. "Não, melhor eu ir..."

     "Não", veio a pequena voz de Bill, novamente.

     Mordendo o lábio, Tom olhou em sua volta. As enfermeiras que estavam esperando lá fora tinham desaparecido e o quarto estava escuro novamente. Tom e Kaaren estavam sozinhos, e Bill não estava respondendo novamente.

     Tom agachou ao lado da cama e tentou olhar através dos braços de Bill e de seu cabelo. "Bill, você pode nos ouvir? Acho que você pode. "

     "Tomi", murmurou.

     "Eu estou aqui," Tom disse. "Você está bem?"

     Bill assentiu, com a cabeça contra os cobertores. "Eu estou be-bem”

     "Eu sei", Tom respondeu.

     "Aonde você vai?" Bill virou a cabeça para olhá-lo, olhos nebulosos e confusos

     "Eu só ... vou embora por pouco tempo."

     Kaaren suspirou. "Eu tenho que ir, a babá que eu contratei já está indo embora ... Tom, fique com o Bill por alguns minutos, ok? Vou enviar uma enfermeira "

     "N-não!" Bill disse, com firmeza, sentando-se e abraçando a boneca em seu pescoço.

     Tom sentia-se irritado, zangado com Kaaren por irritar tanto Bill. Ele não sabia o que dizer. Levantou-se e recuou desajeitadamente, sem saber se iria ficar ou sair.

     "Tudo bem", disse Kaaren, cansada. "Tom, eu posso falar com você?"

     Tom gemeu baixinho, mas seguiu Kaaren para um canto da sala, fora do alcance de Bill.

     "Eu não gosto disso", disse a Tom. "Eu não gosto nada disso, mas agora, isso é o que é bom para a saúde do Bill."

     "O que é isso?"

     "Você", Kaaren respondeu, franzindo a testa. "Ele não vai ... Ele não vai responder a mais ninguém. Não está respondendo há dias. Então você entra, dá-lhe o seu bebê de volta ... Onde você o guardou durante todo esse tempo? "

     "Eu disse," Tom disse, irritado. "Não fui eu quem pegou a boneca".

     "Então, quem?"

     Tom tinha pensado em dedurar Georg. Queria realmente fazer isso, mas tudo o que ele fez foi dar de ombros pesadamente. "Eu não sei. Eu a vi na lavanderia, quando trocava um monte de lençóis.”

      "Eu não sei quem faria uma coisa tão repugnante como essa." Kaaren e Tom olharam para Bill, que estava murmurando docemente para a boneca. "Você não pode ser o seu herói, Tom".

     "Eu não estou tentando ser."

     "Eu acho que você está", disse Kaaren. "Eu não sei o porquê, mas eu ... eu não gosto disso."

     Tom franziu a testa. "O que eu devo fazer?"

     "Ficar longe dele neste momento é inútil." Kaaren sacudiu a cabeça. "Bom, você também é."

     Tom movimentou-se para poder sair, mas Kaaren agarrou seu ombro, acalmando-o.

     "Só esta noite", disse Kaaren. "Só esta noite eu preciso que você fique com ele por um tempo."

     "Eu não posso", Tom protestou.

     "Você pode. Por favor, "ela disse. "Basta falar com ele. Sair com ele. Não o deixe se perder novamente."

     Tom balançou-se, incômodo. É claro que ele queria ficar com Bill, mas isso soou como uma responsabilidade. Ele nunca quis pensar em Bill assim. "Eu não sei."

     "Tom, eu realmente não estou lhe pedindo. Eu sou sua supervisora, e hoje isso é parte do seu serviço à comunidade ", Kaaren disse, com firmeza. "Sim, tudo bem ... Bom, eu tenho que ir."

     "Merda," Tom murmurou.

     "Eu quero um relatório completo amanhã", disse. "Entendeu?"

     Tom olhou Bill novamente. Ele estava deitado de costas com a boneca em seu peito, acariciando-a, sorrindo. Tom assentiu com a cabeça silenciosamente, incapaz de falar alguma coisa.

     "Ótimo. Vejo você amanhã ", Kaaren lhe disse, e com isso, ela se foi, fechando a porta atrás de si.

     O quarto parecia ficar mais escuro e a única luz era a de uma lâmpada maçante, e o brilho fluorescente fraco do quarto. Tom observava-o cuidadosamente. Ele tinha marcas vermelhas em seus pulsos e tornozelos, lugares onde ele tinha sido amarrado. Seu cabelo estava como um ninho de ratos, e havia olheiras sob seus olhos.

     Ainda assim, Tom achava que ele era bonito, encantador. Caminhou lentamente para a cama de Bill, cuidando para não assustá-lo. Fazia muito tempo desde que ele tinha visto o sorriso de Bill como ele estava vendo agora. Sobre a mesa estava um copo com três comprimidos, e havia uma nota debaixo dele.

     Paciente Bill Kaulitz: Tomar estes comprimidos por via oral assim que possível. Recusou-se a medicação desde segunda-feira.

     Era sexta-feira. Tom suspirou e balançou a cabeça. Bill estava sem a sua medicação por quase cinco dias.

     "Tomi", disse Bill, suavemente.

     Tom olhou para cima e forçou um sorriso. "Hey".

     "Oi".

     Tom abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Bill olhou para sua boneca outra vez e acariciou seu rosto. "Obrigado por trazê-la de volta para mim, Tomi", disse Bill, sussurrando.

     Tom não tinha certeza se Bill estava falando com ele ou com a boneca, mas mesmo assim, chegou mais perto e sentou-se na beirada da cama. Bill olhou para cima e deu um leve sorriso.

     "Você me assustou," Tom disse, calmamente.

     "Quando os bebês nascem, eles não conseguem ver nada," Bill murmurou. "E eles sempre têm olhos azuis. Azuis. Este bebê era o único que podia ver tudo, e ela tinha olhos castanhos. Lindos olhos castanhos, como os meus. Como os seus, Tomi ".

     Tom assentiu com a cabeça, deixando Bill falar.

     "Eles não são estúpidos. Eles sabem o que está acontecendo ao seu redor ... Eles sabem, "Bill continuou. "E vo-você sabia ... os bebês não têm lágrimas até que complete quatro semanas. É apenas um pequeno ruído, não significa nada, mas ... Ainda choram, e eu não conseguia dormir por causa disso. Kathryn não queria me deixar chateado, no entanto. Ela estava apenas com fome, talvez. "

     "Quem é Kathryn?

     Bill balançou um pouco. "Por um tempo, eu-eu a ignorei, apenas para ver até quando ela iria continuar chorando ...Ma-mas eu não deveria ter feito isso."

     "Kathryn tem olhos castanhos?

     "Grandes o-olhos castanhos. Tinha. A-agora eles estão fechados. "Bill olhou para a boneca e tocou sua pálpebra. "Você não tem, Tomi? Olhos castanhos?

     Tom olhou para Bill, confuso. "O quê?"

     Bill fechou os olhos e soltou um longo suspiro. A boneca caiu de seus braços e bateu no colchão, de bruços. Os dedos de Bill tremiam e apertavam uns aos outros, e Tom entrou em pânico por um momento.

     Bill estava se perdendo novamente?

     Ele avançou e tocou em seu ombro. Bill abriu os olhos e seu rosto relaxou imediatamente.

     "Tom", disse sorrindo. "Você está aqui".

     Tom sentiu seu peito apertar.

     "Sim, eu estou", ele disse baixinho, afagando seu rosto, onde o polegar acariciava uma pequena cicatriz.

     "Mas você não estava aqui antes ..." Bill sumiu.

     "Não, eu tive que ir embora por um tempo."

     "Por quê?" parecia confuso. Bill franziu a testa e seus olhos se arregalaram. "Por que você foi embora?"

     "Porque eu fui um idiota"

     "Você não é idiota, Tomi", disse Bill, suavemente.

     Tom olhou para baixo e riu. Ninguém além de sua mãe tinha dito isso a ele. "Você não sabe mesmo."

     "Eu não gosto quando você não está por perto."

     Tom engoliu em seco. "Sério?"

     Bill esfregou seus olhos e se encolheu. "Você me mantém aqui."

     "Eu mantenho você aqui?"

     "Quando você vai embora, eu vou, ta-também", respondeu Bill. "Talvez para ir encontrar você, eu não sei."

     Tom aproximou-se e escovou o rosto marcado de Bill com os dedos. Bill fechou os olhos e inclinou-se para o toque, com olhar sereno em seu rosto. Os dedos de Tom se arrastaram ao longo da mandíbula de Bill, e então até sua garganta.

     "Então é para isso que você se perde?" Tom perguntou. "Você vai me encontrar?"

     Bill balançou a cabeça. " Ta-talvez".

     "Bem, eu não vou a lugar nenhum, então você não deve ir também"

     Bill inclinou-se e passou os braços em volta do pescoço de Tom. Tom ficou chocado no começo, ele era geralmente o único a dar o primeiro passo, mas, em seguida, ele puxou Bill em seus braços e apertou-o, acariciando suas costas. Bill pressionou o rosto em sua nuca e Tom sentiu-se quente, sua respiração estava rápida.

     Sentia-se tão pequeno nos braços de Tom, enquanto o outro respirava, inalando seu delicioso cheiro. Ele foi se acalmando, e logo Tom puxou Bill, fazendo-o sentar-se quase em seu colo. Bill inclinou-se sobre os ombros de Tom e suspirou, pegando uma de suas mãos e enfiando os dedos por entre os dedos do mais velho.

     Tom sentia o corpo delgado de Bill e, com a outra mão, e acariciou suas curvas. Bill ergueu a face e olhou para Tom, piscando, inclinando a cabeça.

     “Você não vai a lugar nenhum ", questionou.

     "Contanto que você também não vá", disse Tom, honestamente.

     Bill sorriu um pouco, colocando a mão no rosto de Tom. Tom virou a sua cabeça e apertou um beijo em seus dedos. "Eu não vou", disse Bill, sussurrando.

     Ele puxou Bill em seu colo todo e Bill fechou as pernas ao redor da cintura de Tom, pressionando seu corpo próximo ao do outro. Com seus calores misturados, Bill soltou um suspiro trêmulo. Eles balançaram juntos, dedos entrelaçados, respirações pesadas. Tom soltou as mãos de Bill e arrastou os dedos pelas suas costas, brincando com a bainha da camisa. Seus dedos roçaram a pele quente e ele deslizou as mãos sob a camisa de Bill, massageando as costas nuas, e Bill ronronou suavemente.

     A pele era macia sob os dedos ásperos de Tom.

     Tom pressionou com cuidado, sentindo-o arquear as costas. Olhou para ele, e Bill parecia tão bom, tão delicado e fino em seus braços. Pressionou o rosto no peito em seu peito e Bill acariciou seus cabelos.

     "Tomi", disse Bill, sussurrando, olhando para baixo.

     "O quê?"

     Bill segurou sua face e apertou um beijo em seus lábios, e Tom sorriu. A ligação desesperada entre eles era forte, quase palpável, e que fez Tom sentir uma doce dor.

     Fechou os olhos e respirou fundo, rendendo-se.

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