quarta-feira

Capítulo 7

     Tom estava sentado à mesa da cozinha tarde da noite, girando o celular sobre ela. Passava das três horas da manhã e ele ainda estava acordado. Sentia-se exausto, completamente descarregado, mas sua mente estava inquieta, e isso o deixava tenso.

     Seu telefone havia tocado a noite toda, era Brigitte, mas Tom estava a evitando. Ele não havia falado com ninguém desde que beijara Bill no dia anterior.

     Fechou os olhos, recostando-se na cadeira e passando a pensar sobre isso. Os lábios de Bill eram tão macios e quentes, a sensação de tê-los contra os seus não deixava sua mente. Ele sabia que aquilo era errado, que estava cruzando linhas as quais não deveriam ser ultrapassadas, mas aquilo era tão bom.

     Estar com Bill o fazia sentir que sua vida valia a pena.

     “Tom,” disse sua mãe, entrando na cozinha, segurando um cobertor em torno dos ombros. “É tão tarde. Por que está acordado?”

     “Por que está acordada?” Tom respondeu.

     “Gordon ronca muito alto. Está ficando muito ruim, tem noites que já não consigo mais dormir.” Disse Simone, revirando os olhos.

     “Isso é péssimo.”

     Simone deu de ombros, sentando-se a mesa com Tom. “Então, me conte.”

     “Contar o que?” Tom perguntou.

     “O que está incomodando você?”

     Tom suspirou. “Nada.”

     “Seja honesto.”

     “Não é nada.” Disse Tom novamente. “Eu estou apenas... acordado.”

     “Tudo bem.” Disse Simone, irônica. “Você só está acordado.”

     Tom fez uma careta e coçou seu pescoço. “É, é isso.”

     “Há algo te deixando pra baixo.”

     “A minha vida. O que é e o que não é. O que deveria ser. E Brigitte...” a voz de Tom saia baixa. “Não está mais dando certo.”

     “Isso é ótimo.” Disse Simone. “Ela é uma garota legal, mas não há nenhuma razão para você ficar com ela.”

     “Mm.” Tom concordou. Sua mente havia se voltado para Bill, os lábios de Bill, o cheiro de Bill.

     “E o que foi agora?” Simone perguntou. “Você passou de tenso para relaxado em poucos segundos.”

     Tom franziu a testa. “Sério?”

     “Sério Tom.” Disse Simone, suavemente. “Você tem que descobrir o que vai fazer quando seu serviço a comunidade acabar.”

     “Eu não sei.”

     “Bem, você precisa pensar sobre isso. Você cometeu um erro, um grande erro, você sabe, dirigindo após ter bebido. Graças a Deus ninguém se machucou, mas Tom,” disse Simone, a preocupação presente em seus olhos. “Eu estou preocupada com você. Tenho medo de que faça isso novamente.”

     “E por que eu iria fazer isso de novo?” Tom perguntou.

     “Por que você fez isso, em primeiro lugar?”

     “Eu só... Como você disse, foi um erro. Estávamos na festa, bebendo e nos divertindo, e eu achei que era hora de ir para casa. Então, eu dirigi meu carro, pensando que estava tudo bem. Mas de repente tudo ficou borrado, e eu só lembro de que estava sendo levado para a delegacia algemado.” Disse Tom, baixinho. “Foi tão humilhante.”

     “Bem, graças a Deus nada mais aconteceu.” Simone disse, com firmeza. “Poderia ter sido pior.”

     “Sim, eu sei.” Tom olhou para as chaves do carro penduradas em um gancho na parede da cozinha e suspirou. “Quatro meses sem carteira de habilitação... e eu vou enlouquecer.”

     “Você vai superar isso.”

     Tom deu de ombros.

     “Mais alguma coisa?” Simone perguntou, calma.

     Tom estava pensando em Bill, era essa a única coisa em sua mente. Mas ele não podia contar para sua mãe, não podia contar para ninguém. Ele não queria que alguém o fizesse sentir mal pela única coisa boa que existia em sua vida.

     “Não.” Disse Tom. “É só isso.”

     “Tente dormir um pouco.” Disse Simone, sorrindo e se levantando. “Eu vou tentar fazer o mesmo.”

     “Boa noite mãe.” Tom murmurou.

     Mais tarde, quando Tom finalmente resolveu deitar-se, sentiu-se muito inquieto para conseguir fechar os olhos. Deitado, sentia-se bem, relaxado, mas sua mente não conseguia se desligar. Ele pensava no que Bill se estaria fazendo, se estaria dormindo. Ele queria saber se Bill pensara sobre o beijo, ou se ele sequer se lembrava dele.

     Os membros de Tom se tornaram tensos, e ele sentiu a conhecida sensação de formigamento na barriga. Era agradável, mas frustrante. Ele enrijeceu os dedos e apertou os olhos, tentando controlar a necessidade de ser tocado.

     Sua virilha estava quente e ele apertou sua mão contra ela, seu quadril se mexendo involuntariamente devido ao toque. Agora ele  sabia por que não conseguia dormir. Ele estava sentindo falta de sexo, já que ele e Brigitte não andavam fazendo mais nada.

     Ele tinha apenas se tocado, ultimamente, e agora seu corpo doía de necessidade.

     O belo rosto de Bill e suas formas esbeltas lhe vieram a mente enquanto ele tocava seu pênis, por cima do short. Tom encolheu-se, não podia pensar em Bill, não enquanto estava se masturbando. Ele se sentia culpado, mas não podia negar que se era incrivelmente bom tocar-se pensando no garoto de cabelos escuros.

     Pensou em Bill rastejando em seu colo, sentando-se e pressionando-se contra ele, lambendo seu pescoço. Tom gemeu e puxou os joelhos para cima, mordendo o lábio. Ele deslizou a mão para dentro da cueca, e sentiu quão quente e duro estava. Ele deslizou a bermuda para baixo e segurou firmemente em sua base, a mão escorregando para cima e para baixo. Em sua mente, Bill tinha as pernas envoltas em sua cintura e pressionava sua dureza contra a dele. Seus cabelos eram lisos, sua pele brilhante, e, aos olhos de Tom, ele nunca esteve tão bonito.

     Tom não podia mais se sentir culpado sobre isso, já que o alívio que o dominava era quase imediato. Bill estava sobre ele, contorcendo-se para tocar, agarrar e lamber. Tom fechou os olhos e escorregou a mão, apertando suas bolas e gemendo entre dentes. Ele estava tão quente, o suor se acumulava em sua testa e o ar pesado do verão dificultava sua respiração.

     Ele arqueou as costas, enterrando o rosto em seu travesseiro e suspirando. Agora Bill o tinha em mãos, apertando, seus cabelos escorregando por seu corpo e causando uma gostosa sensação de cócegas. Ele abaixou a cabeça, sorrindo, e lambeu a virilha de Tom. Tom gemeu com o pensamento, e em seguida Bill tornou-se a sentar-se sobre ele, ainda o apertando. Tom arfava e arquejava.

     Depois de alguns minutos, ele se sentou, piscando no escuro, estremecendo. Sentia-se mais satisfeito e descontraído do que já sentira em muito tempo.

     Com Bill ainda em sua mente, ele puxou o calção para cima, e logo adormeceu.

**

     Kaaren estava em sua mesa, fazendo anotações, quando Tom se aproximou dela no dia seguinte. Ela olhou para cima e sorriu quando ele parou na sua frente.

     “Boa noite.” Ela o cumprimentou.

     “Hey.” Tom disse. “Só vim fazer login.”

     “Está cedo!” Kaaren comentou, anotando algo em seus papeis. “Por que a pressa?”

     Tom deu de ombros. “Eu não sei.”

     Kaaren sorriu novamente. “Não há muito o que fazer agora. Esta noite você pode sair mais cedo, assim que terminar.”

     “Ok.” Tom respondeu. Ele fez uma pausa. “Está quieto aqui.”

     Algo em sua voz deixou Tom inquieto, e ele deu alguns passos para trás. “Eu volto mais tarde.”

     Kaaren acenou para ele e Tom virou-se, enterrando as mãos nos bolsos, afastando-se. Ao invés de retirar sua mochila e guardá-la no armário, como sempre fazia, ele a manteve firmemente apoiada nos ombros. Foi direto para o quarto de Bill, sem se importar em disfarçar dessa vez.

     Antes que ele entrasse, percebeu um papel colado na porta. Tom olhou para ele com curiosidade. Era uma parte do arquivo de Bill.

Paciente: Kaulitz, Bill.
Homem, 18 anos.
Leipzig, Alemanha.
Pai: Jörg; Mãe: falecida.
OBS: Tem recusado a medicação durante quarenta e oito horas. Supervisionar de perto.



     Tom franziu a testa, desviando o olhar da página para o chão. Ele se sentiu culpado por lê-la, mas ela estava ali, pendurada na frente dele. Ele não sabia que Bill estava recusando a medicação, sequer sabia que estava sendo medicado. Também não sabia que Bill não tinha mãe.

     Tom agarrou as alças de sua mochila e respirou fundo. Ele tinha que ver Bill, algo dentro de si chegava a doer de saudades. Precisava ver como ele estava, o que estava fazendo, sentir seu cheiro. Ele abriu a porta silenciosamente, o papel balançando devido ao vento.

     O quarto estava escuro de novo, e a janela aberta. Tom olhou para a cama e viu Bill sentado ali, olhando para frente.

     Alguma coisa estava diferente nele. Seu cabelo não estava rebelde, como de costume. Estava limpo, sedoso. Além disso, não havia nenhum resquício de maquiagem em seu rosto. Estava limpo, doce, quase angelical.

     Estava deslumbrante. Tom deu alguns passos para frente, prendendo a respiração.

     “Bill,” disse ele, suavemente. “Bill, sou eu, Tom.”

     Tom não ficou surpreso quando Bill não respondeu, e nem sequer piscou. Bill ficou olhando fixamente para frente, sem expressar nenhum movimento. Tom suspirou levemente e sentou-se na cama.

     “Pensei em você dia e noite.” Disse Tom, calmamente, tirando sua mochila das costas. “Você me segue por toda parte, sabia?”

     Bill piscou lentamente, mas não disse nada.

     “Eu sei que você pode me ouvir.” Tom continuou. “Tudo bem, eu vou parar de falar.”

     Ele olhou para Bill por um momento, apenas observando seu rosto macio, seus ombros delgados e seus dedos longos.

     “Esta manhã eu acordei e tive uma idéia. Minha mãe guarda um monte de coisas de quando ela era pequena. Eu não porque, mas fica tudo no sótão. Acho que ela queria ter uma filha, ao invés de mim.” Disse Tom, rindo. “Então eu subi lá e comecei a mexer nas caixas. Encontrei um monte de coisas lá. Tinha até mechas de cabelo, cabelo de verdade. Bem legal.”

     Bill piscou novamente.

     Tom umedeceu seus lábios. “Quer ver o que eu lhe trouxe?”

     Sem resposta.

     Os olhos de Bill se deslocaram para Tom, e ele se assustou no inicio. Mas continuou encarando Bill com firmeza, sem desviar os olhos, sem piscar. Era uma ligação simples, mas Tom sabia que isso significava muito. Sem tirar os olhos de Bill ele abriu a mochila, e tirou algo de lá. Estava incrivelmente nervoso, e aproximou-se de Bill, quase parando em seu colo.

     Bill olhou para baixo. “Uma boneca?”

     Tom assentiu. Ele havia encontrado a boneca entre as coisas de sua mãe, e seu primeiro pensamento foi dá-la para Bill. Embora ele não entendesse porque Bill precisava tanto de uma boneca. Talvez fosse algum tipo de conforto para ele.

     “É sua, se quiser.” Tom disse.

     “Ah.” Bill franziu a testa e pegou a boneca, trocando-a de mãos algumas dezenas de vezes. “P-por que eu iria q-querer uma boneca?”

     “Porque...” a voz de Tom sumiu, e o aperto em seu peito aumentou. “Porque você não tem...”

     “Eu não quero isso.” Bill sussurrou. “Eu não quero uma boneca maldita.”

     Foi aí que Tom caiu em si. A boneca que Bill tinha antes não era apenas uma boneca. Eles tinham uma ligação muito maior, Bill a amava, era algo real para ele.

     E essa coisa que Tom dera a Bill era apenas uma boneca.

     “Sinto muito” Tom murmurou, abrindo a mochila e guardando-a de volta lá. “Deus, eu sinto muito. Eu só queria ajudar.”

     “Onde está meu bebê?” Bill perguntou, deixando uma lágrima escorrer por seu rosto.

     “Eu não sei.” Disse Tom, calmamente.

     “Eu tenho que encontrá-lo.” Disse Bill, esfregando os olhos. Seu rosto tornou-se pálido e seus olhos desfocados. “E-eu n-não sei...”

     Tom passou os braços em torno de Bill e puxou-o para perto, alisando os cabelos de sua nuca. Bill começou a tremer, e as lágrimas fluíam livremente agora, molhando seu rosto e a camisa de Tom. Tom beijou a mandíbula de Bill, deslizou as mãos por seu corpo, segurou seu quadril e olhou para ele.

     “Bill, Bill.” Tom murmurou. “Por favor, não vá embora.”

     “Não vá embora.” Bill repetiu, balançando-se, inclinando a cabeça para pressionar sua testa contra a de Tom. “M-me faça v-voltar.”

     Seus lábios se tocaram pela segunda vez, e Bill agarrou-se a Tom, ainda tremendo, chupando seu lábio inferior e choramingando. Tom inclinou-se contra ele, segurando-o firmemente em seus braços, suas línguas pressionando-se juntas.

     Quando se separaram, Bill parecia mais calmo, seus olhos focalizados.

     “Hey.” Tom disse, sorrindo um pouco. “Você voltou.”

     Bill assentiu com a cabeça, tremendo um pouco. Seus lábios praticamente imploravam para serem beijados de novo, e Tom inclinou-se sobre ele, beijando-os suavemente.

     “Quando K-Kathryn nasceu, ela n-nunca parou de chorar.” Disse Bill, quando eles se separaram. “Tão alto, nunca pa-parava. Eu não conseguia dormir. Eu não... eu n-não ouvia ma-mais...”

     Tom apertou e acariciou o braço de Bill. Ele não sabia o que dizer. Porém, não importava, porque as pálpebras de Bill estavam se fechando e ele estava oscilando um pouco. Tom ajudou-o a se deitar e cobriu-o. Bill deu um pequeno sorriso e suspirou, fechando os olhos.

     Tom tocou-lhe os lábios mais uma vez, então deu alguns passos para trás, tropeçando em uma cadeira atrás de si. Bill se mexeu, mas não acordou. Tom soltou um suspiro aliviado. Ele não queria sair do quarto, mas tinha trabalho para fazer. Ele voltaria para buscar Bill mais tarde.

     Ele saiu em silêncio e caminhou de volta para a mesa principal, onde Kaaren ainda estava, aparentemente cansada, debruçada sobre uma papelada. Quando Tom chegou à mesa e sorriu para ela, percebeu que ela analisava uma cópia do papel que estava pendurado na porta de Bill.

     “Hey.” Disse Tom, lentamente.

     “Olá.” Kaaren respondeu. “Onde você foi?”

     “Apenas buscar meu esfregão.” Disse Tom, cruzando os braços. “Tudo bem?”

     “Mhmm.” Kaaren esfregou os olhos. “Assim, você sabe, mais ou menos.”

     Tom franziu a testa. “Por que ele não está tomando seus remédios?”

     Kaaren o olhou, surpresa. “Por que a pergunta?”

     “Eu vi um papel em sua porta.” Disse Tom, rapidamente. “Só queria saber.”

     “Oh, bem,” ela disse, suavemente. “Ele é um caso grave. Não sei se deveria comentar algo com você...”

     Tom torceu o nariz. “Me desculpe, eu vou...”

     “Não, na verdade, você pediu isso, é mais do que qualquer outro já fez. Bill Kaulitz tem extremo estresse pós-traumático, e outros danos cerebrais menores.” Disse Kaaren. “Ele está em uma fase ruim.”

     “O que aconteceu?”

     Kaaren suspirou. “Acidente de carro. Oh Deus, um terrível acidente. Com direito a notícias internacionais e tudo. Parece que ele estava indo a algum lugar com sua mãe e sua irmãzinha uma noite, pouco mais de um ano atrás. Sua irmã, Kathryn, tinha apenas seis meses. Sua mãe lhe pediu para colocá-la na cadeirinha, mas Bill preferiu ficar no banco de trás com ela.”

     Tom começou a se sentir mal. “Então?”

     “Então, bem,” Kaaren continuou. “Era sexta-feira à noite, os adolescentes gostam de sair para beber...”

     “Merda” Tom sussurrou.

     Ela concordou. “O impacto foi tão forte que sua mãe morreu na hora. Bill sofreu um grande ferimento na cabeça, já passou por algumas cirurgias, mas sempre terá seqüelas. E Kathryn...”

     “Ele tentou salvá-la.” Tom disse.

     “Ele não poderia, porém, e ela morreu em seus braços. E, para completar, os paramédicos e a polícia demoraram a chegar ao local, sabe se lá Deus por quanto tempo Bill ficou segurando sua irmãzinha morta.” Kaaren olhou para a sua papelada. “Tudo por causa de um motorista bêbado irresponsável.”

     Tom sentiu náuseas. Ele tocou o peito e deu um passo para trás, engolindo em seco. “Isso é... Isso é tão ruim...”


      “Agora ele está melhor.” Disse Kaaren. “Ele fez muito progresso.” Ela suspirou. “Ele costumava... se esconder. A cada pequeno ruído ele se escondia. E ele gritava o dia todo. Durante algum tempo ele vagou pelos corredores, procurando sua mãe... E então a boneca chegou. Foi o que o manteve mais equilibrado até agora. Eu não sei o que aconteceu com ela, eu procurei saber se estava com outros moradores, mas ninguém sabe de nada.”

     Tom engoliu em seco novamente. “Ele acha que a boneca é...”

     “A irmã dele? Talvez.” Respondeu Kaaren. “Seu pai vem visitá-lo às vezes, mas isso nunca acaba bem. Eu acho que ele culpa Bill. Após o acidente ele o largou aqui, para cuidarmos dele em tempo integral. Não é de admirar que Bill não melhore nunca. Eu fico tão irritado com ele... Bill é um amor, ele não merece isso...”

     “O que acontece se ele não tomar a medicação?”

     “Tenho medo de que ele vá embora e nós não sejamos capazes de trazê-lo de volta. Ele desaparece às vezes. Não fisicamente, mas mentalmente. Ele vai para longe, e é muito difícil fazê-lo voltar. Eu não sei aonde ele vai.” Disse Kaaren. “Se é um lugar seguro que o conforta, eu desejaria que ele vivesse lá para sempre. Mas, nós não podemos deixá-lo desaparecer assim.”

     “Eu sei.” Tom murmurou. “Eu queria... Eu queria que as coisas não fossem assim.”

     “Talvez tenha sido uma boa coisa eu lhe contar isso tudo.” Kaaren disse, olhando para Tom. “Você e o Bill tem algo em comum. Você está aqui por ter dirigido alcoolizado.”

     Tom fechou os olhos e soltou um suspiro. “Eu sei.”

     “Não há nada para fazer.” Disse Kaaren, de modo gentil. “É melhor eu ir para casa. Eu tenho feito longas horas extras há duas semanas, é demais para mim. Posso te pedir para colocar esses arquivos de volta na sala de registros?”

     “Claro.” Tom disse. “Me desculpe. Eu não sei porque, eu só...”

     Kaaren assentiu lentamente. “Eu aprecio isso. Você não é um garoto mau Tom, você sabe disso, certo?”

     Tom deu de ombros. “Eu não sei.”

     “Basta ter cuidado.” Disse ela, colocando sua bolsa nos ombros. “Tudo bem? Vai ficar tudo bem.”

     Tom apenas balançou a cabeça. Viu-a desaparecer no elevador e depois começou a empurrar um carrinho com arquivos para a sala de registros. Durante o longe percurso, ele passou por um quarto familiar, e entrou nele brevemente.

     Bill estava dormindo na cama, e Tom soltou um suspiro de alívio. Ele não encontrar Bill olhando para a escuridão novamente. Ele caminhou até a cama e tocou em seu cabelo. Bill suspirou em seu sono e rolou, abraçando um travesseiro pequeno contra o peito, onde normalmente ficava a boneca.

     "Bill", Tom sussurrou.

     Bill se mexeu um pouco, suas pálpebras tremendo, e Tom sorriu, tocando seus cílios. Ele queria ajudar Bill mais do que nunca. Ele perguntou a si mesmo o que era passar por algo tão horrível como Bill tinha passado. Estremeceu.

     O que mais incomodava Tom era que ele estava na outra extremidade desse acidente. Ele não era diferente do motorista que tinha arruinado a família de Bill, a vida de Bill. A única diferença era que Tom tinha sido pego antes que ele pudesse causar qualquer dano, e ele estava tão agradecido por isso nesse momento. Por mais humilhante que fosse, ele sabia que sua mãe tinha razão: poderia ter sido muito pior.

     Bill tossiu durante o sono e Tom recuou, envolvendo os braços em torno de si. O ar estava frio e Tom sentia-se cansado.

**

     Brigitte estava apenas segurando a mão de Tom porque ela achava que deveria segurar. Tom sabia disso. Ele estava fazendo o mesmo, apenas colocando seu braço ao redor dela porque era isso que eles sempre tinham feito. Brigitte estava rígida em seus braços, e Tom só concordou em vir à sua casa à noite porque ela pediu e ele se sentia culpado por dentro.

     "Ow,” ela murmurou, movendo a cabeça. Um mecha de seu cabelo estava sendo puxado por Tom. Ele moveu o braço, colocando-o em seu colo.

     "Desculpe", ele murmurou.

     "Não, está tudo bem", disse Brigitte, dando-lhe um sorriso. Ela ainda estava com suas roupas de trabalho; em seu chato vestuário de bancária. Seu cabelo estava em um rabo de cavalo baixo e a maquiagem era leve.

     Ela parecia uma estranha para Tom, e ele se sentiu incomodado. Sentiu como se já tivesse vivido uma parte de sua vida, e ele não conseguia mais se conectar com ela novamente, nem mesmo se quisesse.

     "O que você quer fazer?" Tom perguntou.

     "Eu não sei. Mamãe e papai estão fora durante a noite ... Nós poderíamos ir para o seu quarto e assistir à formidável televisão ", sugeriu.

     Tom deu de ombros. "Isso soa bem."

     "Ou nós poderíamos pedir comida ... e ... hum ..." Brigitte franziu a testa. " Sair?

     Tom deu uma risada. "Os velhos tempos”

     "Vamos, Tom", disse ela, sorrindo um pouco. " Não saímos há tanto tempo”

     "Eu sei", disse Tom, baixinho. Ele envolveu os braços em torno do ombro dela de novo. Ela suspirou satisfeita, aconchegando-se contra ele. "Ah, Brige, minha perna ..."

     "Desculpe", disse ela, ajustando sua posição.

     Tom fez uma careta e inclinou a cabeça para trás. Ele queria sair de lá, mas ele concordou em dar a ela uma noite inteira.

     "Nós poderíamos ir alugar um filme?", Sugeriu.

     "Sim, nós podemos", Tom concordou. Ele puxou-a mais perto, deixando seu braço pesado descansar nos ombros dela "Tom, ow."

     "O quê?"

     Ela estremeceu. "Meu cabelo, você está puxando-o novamente."

     Tom suspirou.

**

     Quando Tom chegou para trabalhar na noite seguinte, ele foi surpreendido ao encontrar tudo tumultuoso. Havia enfermeiras correndo em voltas, e todos os moradores estavam irritados, mais do que o habitual.

     "O que está acontecendo?", Ele perguntou a Kaaren, manifestando-se.

     "Oh, Deus", disse ela. "Hoje é só ..." Ela balançou a cabeça. "Está assim o dia todo”

     "O que houve?"

     Tom ouviu um grito do fundo do corredor e ele estremeceu quando outra enfermeira correu por ele.

     Kaaren suspirou. "Nós não podemos ... Não há nada que podemos fazer, nós tentamos tudo, eu ..."

     Outro grito, logo depois, um gemido seguido de uma mensagem que veio do fundo do corredor novamente, e os olhos de Tom se arregalaram.

     Era Bill.

     "O que aconteceu?" Tom exigiu.

     Kaaren colocou as mãos para cima, desamparada. "Por favor, não se preocupe com isso, Tom. Não tem nada a ver com você. "

     Tom olhou para o salão, onde era o quarto Bill. Seu coração doía quando ouviu os soluços de Bill. Ele parecia tão errático e desesperado. Tom saiu da mesa e foi ao fundo do corredor, em direção a sala de Bill.

     "Tom!" Kaaren chamou agudamente, mas Tom não virou. Ele tinha que ver o Bill, tinha que ver por si mesmo o que estava errado. Ele pegou o ritmo de seus passos, passando rapidamente por algumas enfermeiras. Todos pareciam distraídos.

     Quando chegou mais perto do quarto do Bill, ele diminuiu o ritmo e se arrastou para quarto, cruzando os braços e mordendo os lábios nervosamente. Ele não tinha certeza do que ia ver, se Bill ia ficar bem.

     Ele respirou fundo e olhou para dentro do quarto.

     A cama estava rodeada por cinco ou seis enfermeiros e Bill estava lá, deitado na cama, batendo tudo ao redor. Ele estava gritando, chorando e arranhando desesperadamente quem se aproximasse dele. Quando algumas enfermeiras se moveram, Tom teve uma visão mais clara do que estava acontecendo.

     Bill estava contido na cama. Seus punhos e tornozelos foram amarrados para baixo e ele parecia aterrorizado.

     Tom sentiu seu estômago enjoar e ele desviou o olhar imediatamente, segurando a mão sobre sua boca, ofegante. Sabia que ele ia vomitar. Saiu tão rápido quanto podia pela porta que levava até as escadas, correndo três degraus de cada vez.

     O ar fresco encheu seus pulmões quando finalmente saiu e ele encostou-se à construção, respirando pesadamente, engolindo quantidades de ar, amolecendo. Por alguns momentos ele ficou ali, tossindo, batendo duramente na parede, amaldiçoando.

     "Merda, merda, merda", jurou, fechando os olhos e apertando com força a testa na parede, até que viu estrelas. Ele agachou-se e sentiu ele mesmo suspirar, e esfregou o inferior de suas costas, tendo respirações profundas e estável. “ Merda ”

     Depois de alguns minutos até se acalmar, puxou o celular do bolso e discou para casa com os dedos trêmulos.

     "Mamãe", ele disse em uma voz trêmula. "Vem me pegar, eu tenho que voltar para casa. Agora. Obrigado."

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