sexta-feira

Capítulo 12

     Simone pousou a mão na perna de Tom, sorrindo com orgulho. “Eu estou orgulhosa de você, Tom.”

     “Eu queria que as pessoas parassem de dizer isso.” Ele respondeu baixo.

     “Bem, você realmente merece isso.” Ela o disse. “Você foi perseverante. Você trabalhou e isso teve uma recompensa. Ainda não acredito que eles te liberaram mais cedo!”

     Tom encolheu os ombros pesadamente. Ele se sentia estarrecido, preso em uma armadilha.

     “O que você está planejando fazer agora?” sua mãe perguntou.

     “Jesus, mãe, eu não sei.” Disse. “Eu saí do trabalho na instituição essa manhã... eu mal tive tempo de ter um plano de vida ainda.”

     Simone ergueu as sobrancelhas. “Você precisa começar a pensar nisso. Brigitte vai ficar feliz por ter você de volta."

     “Ela terminou comigo.”

     “Oh.” Simone olhou para baixo em seu colo, inquieta. “Sinto muito por ouvir isso.”

     “Eu não.” O garoto se encostou no sofá e suspirou. Seu corpo doía e seu coração estava quebrado. Sua mãe realmente não fazia idéia. Ninguém fazia.

     Bill estava fora da vida de Tom de uma vez por todas. Não havia qualquer maneira de eles se encontrarem de novo. Tom teria que aceitar isso. Ele esperava que, com o tempo, ele pudesse esquecer tudo o que aconteceu. Ele desejou que nada disso tivesse acontecido. Ele fez uma desordem nas coisas, para ele mesmo, para Bill.

     A ultima coisa que ele queria sentir com relação a Bill era arrependimento, e ainda assim, aconteceu. Como ele pode ser tão negligente?

     “Vou pra cama.” Tom disse.

     Simone o olhou surpresa. “Mas ainda está cedo, eu pensei que nós poderíamos pedir uma pizza e assistir a um filme.”

     “Estou cansado.” Ele não conseguia se controlar em se sentir culpado pelo jeito que sua mãe o olhava, desapontada. Ele não queria estar com ninguém. Ele precisava ficar sozinho.

     “Bem, tudo bem.” Simone respondeu suavemente. “Tom... Aconteceu alguma coisa?”

     Ele apenas encolheu os ombros mais uma vez, encarando o chão. “Sei lá.”

     “Nós podemos conversar.”

     “Não, não quero.” Tom murmurou antes de deixar a sala e subir as escadas.

     Ele se fechou em seu quarto e sentou na cama, ainda desfeita pela manhã anterior. Se inclinou para baixo, pressionando a face nos cobertores e aspirou o aroma. Ainda cheirava como Bill. Sua respiração ficou presa na garganta e ele deixou sair um baixo soluço, enterrado profundamente nos cobertores.

     Ele tinha que seguir em frente, ele tinha que esquecer isso. Ele tinha que ter responsabilidade em seus atos, de uma vez por todas. Ele precisava crescer. Seu mundo havia caído em pedaços nos últimos meses, e ninguém poderia consertá-lo além dele.

     Tom se sentou e fechou os olhos, respirando fundo. Ele deixou o ar sair e lentamente, abriu os olhos, sentindo-se cansado.

     Levaria um tempo para remendar sua vida, mas ele não tinha tanta certeza quanto seu coração.

** 


três meses depois

     Havia uma certa sensação de frio no ar enquanto Tom dirigia pelas ruas grandes, sua janela aberta. Ele fumava um cigarro e isso queimava o fundo de sua garganta. O inverno estava aí, mesmo sendo o começo de novembro. Ele chegara mais cedo esse ano.

     Terminou seu cigarro e o jogou pela janela. Ele olhou de relance para a rua pelo espelho do retrovisor, correndo pelo ar frio. Ele fechou o vidro da janela e aqueceu as mãos um pouco com seu hálito, deixando as janelas levemente embaçadas.

     Ele estava fazendo seu caminho para casa, do aeroporto. Ele esteve em Londres, passeando com Andreas. O fim de semana foi um borrão de álcool e maconha, o tipo de diversão que Tom precisava. Ele precisava de fumaça.

     Seu coração ainda doía por Bill. Ele não esquecera dele, não conseguiu se desligar do garoto estranho. Ele passou os últimos meses em um estupor, tentando esquecer, tentando ficar ao menos um dia sem pensar em Bill.

     Era impossível. Ele estava completamente perdido pelo garoto, não conseguia abalar isso, nem mesmo queria. Sua ultima lembrança do moreno amontoado sobre sua boneca, parecendo pequeno e perdido, o perseguia diariamente. Ele podia sentir o gosto de Bill nos lábios, ele podia sentir o corpo nu do mais novo debaixo dele. Ele conseguia sentir o cheiro e seu pescoço macio.

     Tom sacudiu a cabeça e virou o carro. Ele esteve longe por tanto tempo, mas seu caminho ainda era familiar para ele como qualquer coisa. Ele dirigiu pelas mesmas ruas, as mesmas esquinas.

     Havia passado tempo o suficiente; ele esperava que não fosse mais indesejável.

     Quando ele chegou ao estacionamento, a primeira coisa que notou foi o quão diferente e sem brilho estava. O lugar nunca reluziu ou algo assim, mas agora parecia sombrio e vazio, abandonado.

     Tom estacionou o carro e lentamente caminhou até a porta da frente do prédio. Ele nunca entrou pela frente antes, ele sempre entrou pelos fundos. A porta da frente era para visitantes.

     Hoje, ele era apenas um visitante.

     Ele foi até a mesa de segurança e, hesitante, caminhou até o elevador para convidados. Estava tão acostumado a usar os elevadores de serviço. O que era para convidados parecia muito diferente para ele, mais limpo e menor.

     Olhou o relógio. Era tarde, quase escurecendo. Ele sabia que Kaaren não trabalhava essas horas.

     Quando o elevador alcançou o quinto andar, Tom entrou com o velho código de segurança, que deu acesso ao lugar. Ele respirou fundo. Tinha o mesmo cheiro; envelhecido, pesado, ácido. O chão estava sujo e a luz do sol mal passava pelas janelas sujas.

     “Merda.” Murmurou, caminhando lentamente pelo corredor. Ele passou por algumas familiares enfermeiras com quem uma vez trabalhou e acenou com a cabeça para elas. Elas acenaram de volta, sem reconhecimento em seus rostos.

     Eventualmente, Tom chegou à conhecida porta. Não haviam papeis colados nela, nem mesmo estava fechada. Estava ligeiramente aberta, um pouco de luz natural vinha do lado de dentro. Tom parou de frente para ela, seu estômago revirando fortemente.

     Ele deu alguns passos para frente e tocou a porta, empurrando-a para abrir. Ela rangeu desagradável enquanto isso. Ele entrou e olhou em volta.

     O quarto estava vazio. O quarto de Bill estava completamente vazio. Onde antes haviam roupas dobradas, lençóis brancos, uma cama feita, e uma planta artificial rajada, não havia nada. Apenas paredes nuas, cortinas grossas e uma cadeira.

     Bill se foi.

     Tom deixou um suspiro trêmulo. Ele não estava preparado para isso. Um milhão de enredos passaram por sua cabeça nesses poucos meses, preparando-o para cada um. Mas ele não havia pensado que Bill simplesmente não estaria lá.

     Ele se sentou na cadeira e se inclinou para frente, prendendo a respiração. Era como se ele tivesse sido esmurrado no estômago e o vento tivesse chutado-o. Ele estava em perda completa. Encarou pesadamente o chão, tentando se acalmar, tentando estabilizar sua respiração.

     Então ele olhou para cima e viu algo no canto, sentada sobre uma prateleira. Era uma boneca velha com um vestido esfarrapado e cabelo embaraçado. A boneca de Bill.

     Tom se levantou e caminhou em direção da prateleira, pegando a delicada boneca. Ele a pressionou contra o rosto e sorriu um pouco, descobrindo que ela tinha o cheiro do moreno. Ele suspirou e abaixou o brinquedo, apertando-a entre os dedos e um pequeno pedaço de papel caiu do bolso do vestido. Tom ergueu as sobrancelhas e se curvou, piscando os olhos.

     você me salvou

     Se o bilhete era para a boneca ou para Tom, ele nunca soube. O loiro segurou a boneca com mais força, encarando a janela. Lá fora, as estações estavam mudando, a vida estava mudando.

     Algo dentro de Tom havia definitivamente mudado, para sempre.

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