sábado

Capítulo 11

     Culpa era uma emoção pesada, e Tom acordou aquela manhã sentindo seu peso. Seu braço estava dormente debaixo do corpo quente pressionado a ele. Bill estava encolhido em volta de Tom, que encolheu o ombro conforme alisava o garoto de cabelos negros delicadamente.

     Tom sentiu uma confusão de sentimentos. Ele sabia que ele tinha feito algo muito ruim, e com a iluminação fresca da manhã e uma retrospectiva, o loiro pensou que talvez ele havia cometido um grande erro. Ele se sentiu culpado, envergonhado de si mesmo.

     “Quê?” Bill murmurou, seus cílios agitando delicadamente contra o ombro do mais velho. “Mm...”

     O mais velho o encarou, entrando em pânico silenciosamente. O que ele tinha feito? Retirou a mão do cabelo do moreno e tentou se afastar, mas ele o abraçava com tanta força.

     Os olhos de Bill abriram devagar e olharam fixamente para Tom entre a mecha de cabelos negros. “Tom?”

     “Hey.” Ele disse calmo, a palavra presa na garganta.

     “Não foi um sonho.”

     “Não.” Murmurou. “Não foi.”

     O outro olhou fixamente para a parede por alguns instantes, e então um lento e apaixonado sorriso começou a se propagar em seus lábios. “Eu esperava que não fosse, eu esperava que fosse real.”

     A culpa que Tom estava sentindo se estendeu por todo seu corpo agora, ele quase não conseguia respirar. Ele se sentou e se inclinou para frente, com as mãos atrás do pescoço.

     “Tom?”

     “É.” Ele disse, fechando os olhos. “É, eu estou aqui.”

     Ele sentiu o moreno se sentar, sentiu seu corpo nu pressionar contra o seu. “V-você está bem?”

     O loiro assentiu lentamente. Seu pânico havia se acalmado um pouco. Bill parecia bem, ele estava feliz e seguro. Tom olhou para o relógio. Eram quase seis e trinta da manhã.

     “Temos que ir.” Disse para o mais novo, finalmente olhando para ele. “Não queremos ter problemas.”

     Ele balançou a cabeça, abaixando os olhos. “Sim, nós temos.” Suspirou baixo. “Voltar pra instituição.”

     “Desculpa.” Foi tudo o que o mais velho conseguiu pensar para dizer. Ele se sentiu miserável naquele momento. O que ele estava pensando, tirando Bill daquele lugar por uma noite? Não só era contra todas as regras do livro, mas Tom não pensou no fato de que eventualmente, ele teria que levar o paciente de volta.

     Por uma noite, Bill foi seu. Agora, ele não sabia o que aconteceria ao mais novo. Ele percebeu que não sabia de muitas coisas.

     O moreno saiu da cama e se aproximou da janela, olhando lá fora. Ele ainda estava nu, e o outro observou seu longo e magro corpo. Haviam hematomas e machucados, cicatrizes em suas costas e ombros. A pele pálida praticamente brilhava na luz do sol. Tom não queria deixá-lo ir, tão culpado como se sentia.

     “Nós podemos fazer isso de novo.” Disse baixo. “Se, você sabe... Se não nos pegarem.”

     “Ok.” Bill respondeu, ainda não se virando.

     “Só se você quiser.” Foi rapidamente para a extremidade da cama e tocou seu pé no chão. Ele também estava exposto e, modestamente, agrupou alguns lençóis no colo. “Nós temos que-“

     “Você não tem que me salvar.”

     Tom o encarou, sem palavras. “Eu não... estou tentando.”

     O moreno olhou por cima dos ombros e esfregou os olhos. “Você tem feito mais por mim do que qualquer um já fez. Isso é claro.”

     “Bill, cala boca.” Tom disse. Ele se sentiu irritado. Ele estava colocando ele e Bill em perigo. O moreno tinha que perceber que isso era mais do que Tom apenas tentando ‘salvá-lo’. “Você sabe como é.”

     “Sei?” Cruzou os braços.

     O loiro apenas suspirou. “Você quer tomar banho antes da gente ir?”

     Bill assentiu. “Nós podemos... juntos?”

     A idéia ocorreu ao loiro, e ele assentiu, também. “Vem cá, ok”

     Ele deitou o mais novo na cama e o envolveu os braços em seus ombros, pressionando um beijo molhado ali. Bill se contorceu em seu abraço e sorriu um pouco, encontrando os lábios de Tom com seus próprios e o beijando.

     Ambos estavam corados, bochechas vermelhas e sorrisos tímidos. O mais velho se colocou de pé, deixando os lençóis em seu colo caírem, e levantou o outro. “Vamos.” disse.

     Quando Bill andou para o banheiro com o loiro, ambos coraram ainda mais. Os dois estavam duros.

     “Sinto muito.” Murmurou.

     “Eu não.” O loiro disse, puxando Bill para debaixo da corrente de água quente com ele. Seus corpos se pressionaram juntos e tom moveu seus quadris contra os do mais novo, fazendo ambos gemerem. o moreno fechou os braços ao redor do pescoço do loiro e pendeu para frente levemente, respondendo-o por mover os quadris. Seus membros se moveram juntos, lentamente, preguiçosamente.

     O moreno ofegou e fechou os lábios no pescoço do outro, beijando e sugando com força. “Não quero te deixar.” Ele suspirou. “É tão bom com você.”

     Tom assentiu, escorregando seus corpos juntos debaixo da água. Seus lábios conectaram em um beijo doce, pesado. O loiro inspirou o aroma do outro, enquanto ele vinha de modo quente contra o mais novo. Este respirou pesadamente e quase desmoronou contra o companheiro, ainda se esfregando e friccionando.

     O mais velho escorregou a mão entre os corpos e encontrou o membro do outro. Ele o apertou uma vez, sentindo o quão quente e rígido ele estava em seus dedos. A água deslizava e queimava entre eles, o vapor levantava e fazia o ar pesado, conforme o moreno se inclinava para frente e gozava fortemente contra a coxa de Tom.

     Eles respiraram pesadamente, abraçando um ao outro para apoio. O loiro se afastou e o encarou, tocando a maquiagem negra que seguia em rastros para baixo de suas bochechas por causa da água.

     Ele sabia que ele estava apaixonado.

     “Ar.” Bill ofegou, sorrindo um pouco e se inclinando sobre o ombro do mais velho. “Porra, ta quente.”

     “Desculpa.” Tom disse, diminuindo a temperatura da água. “Melhor?”

     “Mm...” Fechou os olhos e descansou a cabeça no outro. “Muito melhor.”

     Eles terminaram o banho, lentamente lavando um ao outro, sendo capturados por beijos e toques. Então, o mais velho envolveu o outro em uma grande toalha e eles voltaram ao quarto, nenhum tendo muito a dizer já que o tempo juntos estava chegando ao fim.

     Bill vestiu suas roupas devagar, olhando para o chão o tempo todo. Tom encontrou uma camiseta limpa e vestiu seus jeans. Quando eles estavam prontos, olharam um para o outro silenciosamente.

     “Bem.” O mais velho disse. Ele colocou uma mão no bolso e apanhou seu celular. Quando ele o checou:

     Cinco chamadas perdidas. Todas de Kaaren.

     “Merda.” Murmurou, seu coração falhando algumas batidas. “Merda, merda.”

     “O que?”

     “Temos que ir.” Disse, se levantando. Seu estômago doía. Por que ela o telefonou cinco vezes?

     O mais novo o seguiu para fora do quarto e escada abaixo. Quando Tom alcançou suas chaves, Bill foi para trás, mordendo o lábio e murmurando algo.

     “Bill, vamos.” Disse.

     “N-não.” Ele sussurrou. Seus olhos focavam intensamente as chaves do carro do mais velho. “Sem carro, sem batida.”

     O loiro suspirou baixo. Eles não tinham tempo pra isso, eles tinham que voltar pra instituição. “Bill, lembra ontem a noite? Nós passeamos de carro, foi legal. Nós nos divertimos no carro. Eu fui muito cuidadoso com você, eu nunca te machucaria.”

     “Sem carro.” Foi tudo o que Bill disse. Seus olhos estavam grandes e ele começou a tremer.

     “Bill.” Tom disse gentilmente, se aproximando do outro garoto e tocando seu braço. “Pode confiar em mim?”

     Ele balançou a cabeça, piscando os olhos rapidamente. “Eu n-não sei.” Suas mãos se contraíram e agarraram a bainha da camiseta, torcendo-a em seus dedos. “C-c-cadê meu bebê?”

     “Dormindo.” Disse. “Lá no seu quarto.”

     “Oh, n-não.” Bill respondeu trêmulo. “Não, não n-não.”

     “Bill”

     “Só uma boneca, Bill.” Ele disse fechando os olhos. “Prenda-a com força, é um tipo novo de cadeira, difícil de afivelar. Mas ela está chorando, acho que ela não gosta, mãe.”

     O coração de Tom diminuiu, e ele começou a entrar em pânico novamente. Bill estava tendo um de seus episódios, bem ali na cozinha de sua família. As dobras dos dedos do moreno se tornaram brancas e suas canelas começaram a tremer.

     “Apenas faça, B-Bill, estamos atrasados, temos que ir. Você pode confiar em mim?” O moreno apertou os olhos fechados, balançando a cabeça. “Não, não, não!”

     Tom tocou seu ombro, acariciando seu braço e alisando seu cabelo. “Bill, volta.” Ele disse delicadamente. “Volta, sou só eu.”

     O mais novo estremeceu um pouco. “T-Tomi, ajuda.”

     Tom o envolveu em seus braços firmemente, o abraçando. “Eu estou bem aqui.” Sussurrou no ouvido do moreno. “Eu estou bem aqui, ok?”

     “Eu sei que está certo, Bill, puxe a correia para ter certeza.” Bill murmurou. “P-puxe a correia para ter certeza.” Ele sacudiu a cabeça mais um pouco. “Tom?”

     “Bill.”

     Ele se afastou e olhou para o loiro, seus olhos opacos. “Onde estamos?”

     “Minha casa.” Respondeu, encolhendo os ombros.

     “Oh, sim.” Bill respirou fundo algumas vezes. “D-desculpa, eu sei. Eu sei onde estamos. E seu quarto é lá em cima, e...” Bill olhou para o balcão da cozinha. “E ali estão minhas batatas de ontem à noite.”

     “Certo.” O loiro disse. “E agora, nós temos que voltar para-“

     “Eu sei.” Respondeu delicadamente. “Eu sei. Tudo bem, vamos.”

     O mais velho arrastou a mão em seu braço e entrelaçou os dedos aos dele firmemente. “Não vá, ok?”

     Ele assentiu. “Ok.”

     Eles deixaram a casa, finalmente. Tom estava levemente aliviado por Bill ter se libertado de onde quer que ele estivesse preso, mas ele ainda estava em pânico sobre levar Bill de volta. Ele não conseguia nem imaginar o tamanho do problema que ele se meteria. Nada ele poderia dizer como desculpa pelo fato de ele ter quebrado tantas regras.

     O mais novo não entrou no carro facilmente e apenas se agitou um pouco quando Tom teve que soltar sua mão para entrar no carro. Tão rápido quanto o loiro se sentou no carro, seu acompanhante buscou por sua mão de novo e a segurou tão firme que a circulação dos dedos quase foi cortada. Eles foram devagar pelas familiares ruas que levavam à instituição. O coração de Tom estava batendo rápido, seus nervos no limite.

     Ele não queria ter que se arrepender de ter levado Bill para casa com ele. Ele não queria se sentir mal sobre uma das melhores noites de sua vida.

     “Porra.” O mais novo murmurou assim que eles chegaram no estacionamento da instituição. Tom pensou o mesmo.

     Porra.

     “Vai ficar tudo bem.” Porém, isso que o loiro falou. Apesar de ele não acreditar. Ele estava certo que tudo cairia sobre ele, e logo. O mais novo apenas apertou sua mão e deixou sair um suspiro inseguro.

     Eles foram pelos fundos e Tom alcançou os corredores do quinto andar antes de deixar o paciente em seu quarto. Era cedo o suficiente para que ninguém estivesse por lá. Apenas algumas enfermeiras que acabavam seus turnos da noite.

     O moreno se apressou em seus aposentos e chutou seus sapatos imediatamente. O loiro o seguiu e fechou a posta atrás deles.

     “Nós conseguimos.” Bill disse, pegando a boneca e apertando-a contra o peito. “Oh deus, eu senti sua falta. Oh, deus.”

     Tom se aproximou da porta nervoso, seus dedos ansiando por seu celular dentro do bolso. “Te vejo mais tarde, ok?”

     Ele olhou para cima. “Você está indo embora?”

     “Eu preciso.” Disse delicadamente. “Eu não... você sabe... trabalhar agora. Seria estranho se alguém me visse.”

     “Estranho.” O moreno repetiu. “É.”

     “Eu vou voltar mais tarde.” Tom o disse. “Eu prometo.”

     Ele assentiu devagar. “Eu acho.”

     “Hey.” O mais velho disse, indo se sentar ao lado do outro, cutucando seu ombro. “Só porque eu te levei pra minha casa não quer dizer que nós estamos casados.”

     Bill riu um pouco. “Eu sei, eu sei.”

     “Só significa que eu, tipo, gosto de você.” Sorriu. “Não, não isso, significa muito mais que isso.”

     “O que significa?”

     Tom estava prestes a dizer algo, mas o celular começou a vibrar em seu bolso. Ele o alcançou e viu que era sua mãe ligando.

     “Eu tenho que ir,” ele disse. “Mas... mais tarde. Eu volto mais tarde, ok? Você deveria dormir um pouco.”

     “D-dormir.”

     “Fique bem, ok?” pressionou um beijo nos lábios de Bill. “Vou sentir sua falta.”

     Ele abraçou seu bebê. “V-você está com fome?”

     O loiro encolheu os ombros. “Bill, vamos, não fica assim, por favor.”

     “Eu não sei onde sua mamadeira está.” Bill sussurrou para a boneca.

     Então Tom percebeu. Ele estava indo embora, o que significava que Bill tinha que ir também. O moreno se perdia completamente quando Tom não estava por perto.

     “Bill, eu ainda estou aqui.” Disse calmamente.

     Ele olhou para cima, seus olhos obscuros. “Eu sei.”

     “Bom.” Tom o beijou novamente e ele se curvou um pouco. “Te vejo logo.”

     “Tchau.” Disse vazio, encarando sua boneca.

     O loiro se afastou alguns passos, observando o outro. Doía fisicamente ter que deixá-lo. Ele quase não conseguiu fazê-lo, ele queria voltar correndo para o moreno e trazê-lo de volta à realidade.

     Mas em vez disso ele apenas se virou e foi embora, fechando a porta atrás dele com um clique. Arrastando seus pés, ele caminhou pelos corredores até a porta de saída. Ele viu Georg empurrando um carrinho de comida próximo, e ele enrijeceu.

     “Hey.” Georg disse, deixando o carrinho e andando em direção a Tom. “Você está aqui muito cedo.”

     “Tava só terminando uma coisa.”

     “Aposto que estava.” Ele cruzou o braços, um sorriso estranho em seu rosto. “Então, você está dirigindo agora.”

     “Sim.” Tom disse abertamente. “E daí?”

     Georg encolheu os ombros. “Levando a senhorita Bill pra passear?”

     O de dreads congelou. “O que?”

     “Nada, cara.” O outro se virou e voltou ao carrinho de comida, voltando a empurrá-lo na direção oposta.

     Trêmulo, Tom deixou o prédio.

**


     “Bem, eu só queria que você checasse o Bill.” Kaaren estava dizendo ao telefone enquanto Tom estava dirigindo para casa. “Ontem à noite, já que eu sabia que você estava por perto. Mas eu deixei para Georg. Você sabe, ele trabalha na cozinha. Ele ficou lá até tarde da noite limpando algo que derramaram no terceiro andar.”

     “Ahn?” O garoto perguntou. “Mas você... Você ligou cinco vezes.”

     “Porcaria de telefone ficava perdendo o sinal.” Kaaren disse. “Me desculpe por isso.”

     “Sem problemas.” Ele disse de vagar. “Então... Georg?”

     “Sim, eu deixei para ele e pedi para dar uma olhada em Bill.”

     “E...” Tom mordeu o lábio. “E Bill estava bem?”

     “Dormindo profundamente, Georg disse. Não fiquei surpresa. Aquelas pílulas que o pai dele autorizou derrubariam um cavalo de raça.”

     Tom engoliu seco. “Georg disse isso?”

     “Sim, ele disse. Por quê?”

     “Eu só...” O garoto deixou um suspiro inseguro. “Eu acho que eu não o vi lá ontem a noite.”

     “Bem, ele estava.” A mulher pausou. “Mas eu realmente espero que Bill esteja bem. Georg pediu para me encontrar em particular. Eu estou indo agora mesmo.”

     “Oh.” O coração de Tom batia rápido. Ele estava com problemas, ele sabia disso. Provavelmente iria para a cadeia. Por muito tempo. “Oh, okay.”

     “Então, te vejo mais tarde, se eu te pegar.” Kaaren disse, com uma expressão risonha na voz. “Obrigada por tudo, Tom. Você tem sido um ótimo trabalhador. Sentiremos muito por ver você indo embora.”

     “O que?”

     “Você sabe, já que seu serviço comunitário está quase acabando.” Ela respondeu.

     “Ah. Ah, certo.” Tom respirou fundo. Ele estava muito paranóico e se sentiu mal. “Bem, certo. Obrigado.”

     “Tchau, Tom.”

     Tom desligou e arremessou seu celular para o chão do carro. Ele encostou o veículo no meio fio e apenas ficou sentado lá até que perdesse a noção do tempo.

**


     Quando o loiro chegou em casa, ele viu um carro familiar na rua. Era o de Brigitte, e ela estava próxima a ele, vestindo sua roupa de trabalho. Ele dirigiu até lá e estacionou, dando um aceno com a mão para a garota.

     “Hey.” Disse enquanto descia do carro. “Nossa, você está aqui cedo.”

     “Você está dirigindo?” foi o cumprimento de Brigitte.

     Ele não poderia mentir pra ela. “É, eu só... Eu precisei... ir a um lugar.”

     A garota suspirou. “Se você for pego-“

     “Não vou. Calma.” Tom disse. “Tudo bem.” Pausou. “O que você... O que aconteceu?”

     “Eu poderia ter te levado.” Ela disse. “Eu poderia... bem, se você respondesse minhas chamadas de vez em quando. Tom, o que aconteceu?”

     O garoto de dreads olhou para baixo, para a janela do carro e viu seu reflexo. Ele parecia enrugado e cansado, como um estranho. Nem reconheceu a si mesmo, quase como ele mal reconheceu Brigitte. Ela parecia velha para ele. Ela parecia triste e distante.

     “Nada.” Murmurou. “Só... estou cansado.”

     “Você nem conversa mais comigo.”

     Ele encolheu os ombros.

     “Eu termino o colégio logo. Amanhã.” Ela disse, parecendo animada. “Eles adiantaram a data, e minha colega de quarto vai me encontrar mais tarde para irmos fazer compras, e... Eu pensei em vir aqui de manhã pra ver se...”

     Tom a encarou. “Se?”

     “Eu queria ver se havia algo entre nós mas...” Brigitte prosseguiu, cruzando os braços pelos ombros. “Sei lá, eu senti... nada. Eu não tenho sentido nada por um tempo.”

     Essa era Brigitte. Sempre direto ao ponto, nunca com papo furado. Tom apenas riu um pouco e balançou a cabeça.

     “Você está me chutando, Brige?” ele perguntou.

     “Não diga isso, Tom. Você nem fala mais comigo.”

     “Eu não falo mais com ninguém.”

     “Eu sei. Eu perguntei por aí, queria saber se era só comigo.”

     Ele encolheu os ombros. “Por que eu faria isso com você?”

     “Você mudou, Tom.” A garota disse suavemente. “E tudo bem, eu acho... é, tudo bem.”

     “Você mudou, também.”

     Brigitte concordou. “Onde você se enfiou?”

     Os olhos de Tom se arrastaram pela calçada enquanto ele pensava em Bill. Seu sorriso, sua risada, seu beijo, seu corpo esbelto nu debaixo dele.

     “Tem mais alguém?” Ela perguntou.

     Tom ficou em silencio o suficiente para Brigitte ter sua resposta. Ela suspirou e encostou em seu carro, cruzando os braços.

     “Sinto muito.” O garoto disse baixo.

     “Eu sei.” Ela respondeu. “Eu sei que sente, porque... você não é um cara ruim.”

     Ele encolheu os ombros mais uma vez.

     Brigitte deu um passo para frente e tomou Tom em um abraço apertado. Ele a abraçou de volta, respirando fundo e descobrindo que ela até mesmo cheirava diferente agora. Tudo estava diferente nela. Ele alisou uma mão em suas costas e deixou um beijo no pescoço dela quando eles se afastaram.

     “Boa sorte na escola.” Tom disse.

     “Boa sorte em tudo.” Brigitte respondeu, manejando um pequeno sorriso. “Te amo.”

     O garoto acenou com a cabeça, ele não conseguia dizer mais nada. Ele observou o carro dela indo embora e deixou um pequeno suspiro conforme mais um capitulo de sua vida chegava ao fim.

** 

     “Como você foi pro trabalho ontem a noite?” A mãe o perguntou enquanto o levava para a instituição aquela tarde.

     Tom se abaixou em seu assento, mexendo o cinto. “Peguei um táxi.”

     “Mas o dinheiro que eu te deixei estava na mesa quando Gordon e eu chegamos.”

     “Eu usei meu próprio dinheiro.” Ele mentiu.

     Simone concordou com a cabeça. “Quantas semanas de serviço você tem?”

     “Duas.”

     “Você não está muito pra conversa agora.”

     Ele encolheu os ombros e manteve o olhar fixo fora da janela. Ele não estava com vontade conversar. Ele se sentia muito culpado para falar, ele tinha muitos segredos e por dentro, ele estava em pânico. Tom estava prestes a encarar Kaaren pela primeira vez.

     “Bem, aqui estamos.” Simone disse. Ela chegou ao estacionamento da instituição e parou o carro. “De nada.”

     “Obrigado.” O filho murmurou, procurando a alça da porta. “Obrigado por tudo.”

     Simone sorriu. “Tudo?”

     “Você sabe.” Ele disse. “Dar a luz, fazer o jantar, me dar carona.”

     “Oh, não é nada.”

     Tom lançou-a um sorriso e desceu do carro. Com os joelhos trêmulos ele entrou no prédio, e ficou surpreso por encontrar Kaaren próxima ao elevador.

     “Tom.” Ela disse, com sua expressão ilegível.

     Ele engoliu seco, seu estêmago caindo rumo ao chão. “Hey.” Disse.

     “Preciso falar com você.”

     “Oh.” Apenas assentiu. Ele não podia se incomodar em mentir, ele estava muito cansado para se explicar. Ele apenas aceitaria tudo.

     Seguiu Kaaren pelos corredores e ela o guiou para um escritório vazio. Ela e sentou atrás de uma mesa e gesticulou para a cadeira.

     “Sente-se.” Disse.

     Tom sentou, olhando para o chão.

     “Agora,” Kaaren disse, cruzando os braços na superfície da mesa. “Eu nunca acreditei que você fosse uma pessoa ruim. Eu nunca pensei que você me decepcionaria.”

     “Oh.” Ele disse de novo, nervosamente.

     “Mas...” A mulher balançou a cabeça uma vez. “Eu me encontrei com Georg – você conhece o Georg – essa manhã e as coisas que ele me disse...”

     “Me desculpe.” Tom disse, olhando para cima para encontrar seus olhos.

     “Eu não consigo... eu não... eu não sei ao certo o que pensar. Ele me disse que você esteve um pouco próximo demais de um certo paciente e eu não sei o que ‘um pouco próximo demais’ significa. O que significa, Tom?”

     A boca do loiro se abriu. Ele não tinha idéia do que dizer. “Eu...’

     “Então Georg conversou comigo mais um pouco. Ele disse que subiu para o quarto de Bill ontem à noite, depois que eu o pedi para checá-lo e...”

     Tom se enrijeceu.

     “Bem, ele não me disse exatamente o que ele viu, mas Tom, eu acho que ambos sabemos o que ele encontrou você e Bill fazendo.” As bochechas de Kaaren estavam levemente vermelhas. “Eu te pedi especificamente para não chegar perto de Bill. Eu te pedi, Tom.”

     “Georg disse que nos viu no quarto?” Tom perguntou

     “Quer ele esteja mentindo ou não, eu tenho que analisar isso.” Ela disse. “E julgando pela sua reação, eu acho que eu escolho acreditar nele.” Suspirou. “Eu insisti para que você não se aproximasse de Bill assim. Ele cria afetos, e ele não precisa desse tipo de afeto. Ele não está pronto para um relacionamento amoroso, Tom, eu achei que você tinha senso para saber disso. Ele não é estável.”

     “Georg disse que ele viu a gente? No quarto de Bill?” Ele perguntou de novo. Ele continuou com isso na cabeça, ele não conseguia entender por que Georg não disse para Kaaren a verdade; a verdade que o colocaria na cadeia.

     “Sim.” Ela pareceu embaraçada. “Em uma posição completamente comprometedora. Georg parecia mortificado.”

     “Eu não sei o que dizer.”

     “Eu tenho duas opções pra você.” Kaaren disse, levantando-se. “Tá ouvindo?”

     Ele assentiu.

     “A primeira opção é ir embora agora, nunca mais entrar em contato com Bill, ficar longe desse lugar por um bom tempo. Eu dou à corte um bom relatório e digo que nós te liberamos mais cedo porque você era muito bom, trabalhador, honesto.”

     “E a outra?” Tom encolheu os ombros.

     “Você fica para o resto do seu serviço comunitário. Continua fazendo o que você está fazendo. Eu falo a verdade para a corte. Sobre Bill, e sobre dirigir.” Kaaren encarou o garoto. “E eles não perdoarão.”

     Tom se sentiu com as mãos atadas. Ele nunca mais veria Bill de novo, do mesmo jeito, e seu coração doeu tanto que ele quase perdeu o ar.

     “Tom?”

     Ele lembrou de Bill, cada parte sua, e a dor dentro dele se tornou agridoce. Ele ajudaria Bill, ele sabia que sim. Tom tinha certeza disso. Bill disse a si mesmo que ele não teria voltado por mais ninguém, e o loiro acreditava nele. Ele não era louco. Ele só estava um pouco perdido, e Tom também. Entretanto, eles se orientaram para encontrar um ao outro, e isso havia salvado ambos.

     “Tom, você está ouvindo?’

     “Eu vou embora.” O loiro disse baixo. “Eu vou embora. Sinto muito, de novo.”

     Kaaren assentiu com a cabeça uma vez. “Eu também.”

     “Eu não o machuquei, eu não o faria, eu-“

     “Eu sei.” Ela disse, sua face suavizando. “É difícil pra mim, também.”

     O garoto olhou para baixo, concordando com a cabeça. “Obrigado por...”

     “Boa sorte, Tom.”

     “É.” Tom se levantou e deixou a sala, arrastando seus pés até que estivesse do lado de fora. Ele dei alguns passos para trás e olhou para cima para o prédio, piscando os olhos na triste luz do sol. O quinto andar estava escuro, muito mais que o resto dos andares, e a dor de Tom aumentou mais um pouco.

     Ele pegou o celular do bolso e discou o número de casa.

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